domingo, 19 de junho de 2011

Roça

É impressionante como os modismos tentam suplantar o tradicional, temos que estar vigilantes, para reforçarmos o direito à memória e ao registro da nossa história e das nossas tradições. A globalização vem sorrateira e letal à muitos valores. As verticalidades, representadas por elementos que tentam impor um padrão cultural pretensamente global, se materializam em várias vertentes. Lembro da quadra junina, de forrós tradicionais na minha cidade, em que ainda garoto ficava impressionado com a mobilização de pessoas, as músicas clássicas, "Tem tanta fogueira, tem tanto Balão", "Olha pro céu meu amor, vê como ele está lindo", xotes, xaxados, quadrilhas, cordões de boi, pássaros e outros bichos. Momentos de encanto e fantasia, pau-de-sebo, quebra-pote, corrida-no-saco, enfim. Ah! maravilha era sentir o cheiro do tucupí no tacacá, do dendê no vatapá, da canela no mingau de milho-branco, da canjica, da pamonha enfim cenário de alegria e apetite. Muitas dessas coisas desaparecem aos poucos, em geral a juventude detesta as encenações de cunho popular e o teatro também por falta de acessibilidade à cultura. Outro dia estive em um forró, o DJ, esse dois em um, substituto do operador e do locutor das antigas aparelhagens, que não precisavam ensurdecer ninguém, passa a festa toda mandando abraços e anunciando baldes em mesas alheias, sem contar as inserções da vinheta para você não esquecer o nome do "som",  os forrozeiros dançam mais falações e vinhetas do que xotes, forrós, quadrilhas, xaxados  e outros estilos; com programas de gravação,  os benditos DJs conseguem mudar a rotação original das músicas e se continuar essa tendência, daquí no máximo a dois anos, estaremos dançando com os mesmos movimentos da época do cinema mudo, mecanicamente, mas, ligeirinho. Estou convencido de que esses DJs da vida se apaixonaram pelas vozes daqueles camundongos que cantavam no filme "Babe, um porquinho atrapalhado", e eles alterando as rotações originais, promovem esse efeito sonoro, quase um "canto de Uirapurú". As quadrilhas se constituíram em grupos de dança moderna, que deveriam ser estimulados pelas instâncias governamentais e ocupar adolescentes e crianças em situação de risco. E os cavalheiros e damas? Às vezes você tem a impressão que está em uma batalha campal, com movimentos frenéticos, encontrões, pedidos de desculpas e caras fechadas de desaprovação. Será que aquele tempo em que os bailes tinham sequências alternadas de estilos vai voltar? A hora de dançar agarradinho de forma mais suave e romântica? Tomara! precisamos aproveitar todos os estilos, principalmente esse de dançar coladinho, dar aquele cheiro no cangote, e namorar claro, que ninguém é de ferro. E que a quadra junina resgate aquele tempo. E que o tradicional e o moderno convivam em igualdade de condições, afinal, manter a tradição é conservar a identidade cultural.       

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