domingo, 19 de junho de 2011

Vida Abundante

Neste domingo um dos jornais de grande circulação no nosso estado destaca em primeira página os contrastes sociais no Pará, fazendo aquela conhecida relação, metade Bélgica e metade Índia, ou seja Belíndia. Na foto abaixo da manchete imagens da  celebração do centenário da Igreja Assembléia de Deus. É muito louvável que uma igreja fundada em Belém do Pará possa atingir o centenário com perspectivas de maior crescimento; a mobilização e a festa em torno deste acontecimento são tão impressionantes quanto contagiantes. O fato é que os contrastes socioeconômicos se agravaram com a globalização nos países capitalistas, periféricos e centrais, e se considerarmos que o Brasil é a vanguarda do atraso, poderiamos localizar o Pará e a Amazônia, como periferia da periferia. O coronelismo em suas vertentes midiática, agrária, industrial, comercial, pequeno burguesa, enfim, aliena  os empobrecidos não apenas de bens materiais, mas principalmente da imaterialidade cultural que educa, conscientiza e liberta o cidadão e preconiza a presença da aura da modernidade, para que enfim possamos dispor de uma sociedade autônoma, crítica e agente da sua própria transformação. Certa vez eu chamava a atenção dos alunos para o fato da multiciplicidade de templos nas comunidades e o aumento crescente da violência. Qual o nível de engajamento e eficiência das comunidades cristãs ou não, das religiões em geral na resolução dos problemas mais graves da população? É facil constatar que medidas assistencialistas se constituem num paliativo cúmplice da iniquidade. Estive refletindo sobre a quantidade de pessoas que neste centenário a igreja pentecostal livrou ou resgatou da dependência química ou ainda quantas famílias e comunidades se estabilizaram e encontraram a felicidade e a paz de espírito nos ritos celebrados. E o que dizer da Igreja Católica? presente na Amazônia desde 1616, daqui a cinco anos serão quatro séculos. E no mês de outubro, com as celebrações nazarenas, visualizamos todo o esplendor e o sucesso da caminhada realizada pelos cristãos católicos nesta região. Mas, me parece que precisamos fazer muito mais. Talvez o radicalismo de Karl Marx quando acusa a religião de ser o ópio do povo, necessite ser contestado. Sabemos que a postura conservadora de vários credos não representam a totalidade de seus membros, do contrário pessoas como Marina da Silva que é pentecostal, não se constituiriam em  lideranças expressivas no cenário político, com reconhecida atuação no Congresso Nacional. E o que dizer de Leonardo Boff, Pedro Casaldáliga, Erwin Krautler, Tomás Balduíno, Mauro Morelli ou mártires como Oscar Romero, Doroth Stang, que o ardor no testemunho da fé, faz com que sejam perseguidos ou, no caso dos dois últimos, assassinados por preferencialmente optarem pelos empobrecidos. É lamentável constatarmos o envolvimento de lideranças cristãs com projetos que reforçam a desigualdade e a injustiça, que alienam  e dissociam o Projeto de Deus da realidade terrena, talvez por causa do equívoco de associar o Reino de Deus a uma dimensão unicamente escatológica e extraterrena. Outra confusão latente parece estar relacionada com a afirmação de Santiago de que: "A fé sem obras é morta", e daí se constrói templos e mais templos e suscitam em alguns o convencimento da multiplicação de pontos em uma rede de arrecadação. Claro que a Igreja tem que se aproximar da comunidade, mas, é urgente que as mesmas realizem obras mais consistentes de resgate da cidadania e da qualidade de vida. Nunca é demais lembrar que o Senhor Jesus anunciou que "Veio para que todos tivessem vida, e vida em abundância". Como vislumbrar a abundância da vida no cenário de violência, injustiça social, e opressão em que vivemos? Quantas não são as igrejas que mobilizam seus fiéis para elegerem representantes políticos que apoiam ações políticas que reforçam ou agravam esse cenário? Parece que está faltando aos nossos irmaõs, que utilizam os púlpitos dos diversos templos, cristãos ou não, aliarem ao anúncio da Boa Nova,  a denúncia dos obstáculos que impedem o Criador de executar através daqueles que acreditam Nele o reino da igualdade, da fraternidade, da Paz e do Amor. Entre tais obstáculos, o mar de corrupção reinante no país, o egoísmo e a ganância das classes abastadas que vêm na concentração da riqueza o status à condição de deuses, que tudo podem e nada lhes impõe limites. Aliás, biblicamente falando, o senhor jesus Cristo se opôs a riqueza, mas, parece que infelizmente muitas vezes nos só usamos os textos e versículos bíblicos em certas ocasiões quando nos é conveniente, aliar o discurso a prática torna-se um imperativo. Acredito que nos próximos anos, décadas, centenários, e milênios, nós cristãos temos tudo para evoluir, deixar-se banhar pela luz do Espírito Santo, e ouvir o clamor dos pobres no mundo inteiro, em seus anseios por vida em abundância, e buscarmos a materialização do legado que o Cristo nos deixou, sem preconceitos, fundamentalismos e intolerãncia. Shalom!    

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