sábado, 16 de abril de 2011

Outono III

"We are the children!"
Ainda ressoam os ecos do massacre na escola em Realengo, é verdade que devemos fugir do sensacionalismo midiático, porém é muito difícil entender o que acontece na mente de alguns seres ditos racionais, talvez a irracionalidade dos seres humanos seja muito mais perigosa que dos outros seres animais. E os nossos olhos teimam em ficar marejados pelo acontecido. Diante desse absurdo, somos frágeis e impotentes, mas precisamos nos voltar para tantas outras crianças que sofrem no mundo. Precisamos continuar indignados com a situação das crianças que em silêncio continuam sendo abusadas por pedófilos, muitas vezes em seus próprios lares, com as crianças perdidas nas cracolândias da vida, com as crianças ribeirinhas que empurram suas frágeis embarcações em direção aos barcos e navios da Amazônia pedindo esmolas aos viajantes, com as crianças que sobrevivem no submundo das periferias urbanas e rurais, com as crianças sem-terra, obrigadas a viver errantes acompanhando seus pais na luta pela terra, raiz da sobrevivência, com as crianças que passam o dia nos lixões tentando arrancar a fome de seus frágeis organismos,  com as crianças enterradas nas lavouras que são obrigadas a trocar seus materiais escolares por enxadas e facões, com as crianças das esquinas, estradas e ruas que se prostituem trocando seus corpos por míseras moedas, com as crianças que cedo expõem a sensualidade de seus corpos por falta de informação de seus pais, ficando a mercê dos abusadores,  com as crianças que precocemente abraçam a maternidade empurradas pela banalização do sexo na mídia e falta de orientação na família e na escola, com as crianças que abraçam a violência como única opção de sobrevivência, com as crianças que dispõem de um enorme potencial para a ciência, esporte, arte, etc. mas as oportunidades lhe são roubadas pela situação de exclusão em que vivem, com as crianças que continuam sofrendo bullying nas escolas e em outros locais, simplesmente porque vários garotos são educados para se sentirem superiores aos demais, principalmente os tímidos , pobres, negros, gordos, magros, e demais pessoas que não se enquadram nos padrões de beleza estabelecidos pela ditadura do modismo,  com as crianças vítimas das intempéries na Asia, com as crianças empobrecidas na África e na América Latina obrigadas a viver envoltas no lençol da pobreza extrema, cujo exemplo maior se expressa no Haiti, com as crianças da Líbia que podem ser alcançadas pelos mísseis ainda enquanto dormem, simplesmente porque alguns acreditam estar levando liberdade e a paz ao Oriente Médio com a guerra. Lembro de ter lido na Caros Amigos a declaração de um palestino, recebendo a sentença do soldado israelense: "Vou matar teu filho, pois assim vais sofrer o resto da vida". Nossos filhos dão continuidade a nossa existência, neles habitam os genes que a nossa geração herdou dos nossos antepassados e carregou até aqui, neles continuaremos vivendo e realizando os sonhos mais profundos do universo. Temos muitas lágrimas ainda para verter, porém  a cada  final de madrugada o sol nasce para enxugá-las, rejuvenescer nossa esperança, e nos mostrar que amanheceremos sempre, por toda a eternidade.

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