Passados 123 anos da chamada "abolição da escravatura" no nosso país, não é necessário fazer muito esforço para perceber que não temos muito o que comemorar. Em primeiro lugar é necessário ver na assinatura da "Lei Áurea" o resultado da luta secular dos negros que não se renderam a "verdade" do opressor, e precisamos celebrar com júbilo a resistência a todo jugo de opressão que no contexto atual não apenas os negros, mas, os mestiços, os povos indígenas, os sem-terra, além de toda sorte de minorias e principalmente os empobrecidos sofrem e continuam lutando por uma real e autêntica democracia. É simplesmente lamentável que ainda hoje pessoas sejam escravizadas nas áreas de expansão da fronteira agrícola ou nos latifúndios desse país. Aliás, que o salário mínimo pago a tantos trabalhadores e trabalhadoras do nosso país não atende às mínimas necessidades de uma família. Anos de arrocho salarial, décadas perdidas a parte, o salário mínimo hoje talvez possa equivaler a 25 ou 20% do valor estabelecido na sua criação, o que não deixa de ser uma forma de opressão. Mas, é preciso retornarmos à questão do negro no Brasil, é preciso lembrarmos daquelas políticas divulgadas como favoráveis à causa dos negros e que na verdade eram uma forma de ajudar os senhores de escravos. Vejamos o caso da "Lei do Sexagenário", que na verdade ajudava o Senhor a se livrar do negro escravo de sessenta anos que passou a vida toda sendo espancado, dormindo mal, vivendo em péssimas condições e que concerteza aos sessenta anos não podia mais trabalhar, e o "bom" fazendeiro ainda recebia dinheiro do Estado para se livrar desse "peso". Outra situação interessante de se analisar é a chamada "Lei do Ventre Livre", na qual bebês filhos de escravas eram abandonados, daí talvez a origem do menor abandonado no país. Podemos concluir que as escravas ao cuidar de seus bebês provavelmente, deixavam de produzir no rítmo daquelas que não estavam convalescendo do parto, logo o Estado deu um jeito de resolver este problema e ajudar o fazendeiro. Mas o golpe final sobre os negros escravizados foi a dita "abolição", quem imaginou que a partir daquele momento os negros seriam trabalhadores livres engana-se, na verdade os negros passaram a sujeitar-se a trabalhar em troca de comida porque europeus foram trazidos para trabalhar e receber os salários pagos nos cafezais da época. Na verdade a sociedade brasileira tem uma dívida histórica para com os negros e com todos os segmentos de excluídos do país. Daí a necessidade de implantação de políticas compensatórias, não políticas eternas assistencialistas, mas políticas verdadeiramente libertadoras. Por isso sou favorável a um sistema de cotas nas universidades que alcance a escola pública, e dentro destas, uma cota específica para os negros. Tenho convidado meus alunos do 2º e 3º ano do Ensino médio a verificarem quantos negros fisionomicamente autênticos temos nas classes, geralmente um ou dois, o que significa que mesmo na escola pública, tão questionada quanto a qualidade oferecida, os negros são minorias expressivas. Agora não podemos parar tão somente nesta ação, precisamos investir na escola qualificar seus profissionais, acreditar que podemos ter uma educação de qualidade, que gere cidadania e desenvolvimento. Além de tempo integral a escola precisa de ciência, arte, esporte e lazer; professores, técnicos, psicólogos, assistentes sociais, pedagogos, auxiliares de disciplina, e demais servidores de apoio, qualificados e bem remunerados, para que não tão somente os negros ascendam socialmente, mas toda sorte de excluídos, sejam eles diferenciados pela raça, credo, opção sexual, etc. Abaixo toda tipo de preconceito e discriminação! Liberdade para todos!

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