quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Labaredas I

A canção "Labaredas" que compus a algum tempo atrás, foi composta assim aos poucos, os versos gotejando, como as primeiras chuvas do período de espera, daqueles que semearam e anseiam pelos  primeiros brotos, sinais da fertilização e esperança na futura colheita. 
Compor parece com, deixar-se envolver em uma magia, um transe prazeroso, como aquele banquete espiritual que uma colega dizia participar em oração e júbilo, talvez ignorando que o mesmo se processe em outras manifestações religiosas, em outros credos, desde a pajelança dos nossos ancestrais indígenas, ou o ritual descrito por Paulo Coelho em "As Walquírias". Talvez não exista um ritual místico que represente a construção de um poema, de uma canção ou de um texto literário, mesmo que tenhamos que apagar , o que muitos considerariam bonito, minha autocrítica talvez despreze o belo, supervalorize o detestável, não sei. Todas as coisas que escrevemos são o que consideramos nossos. E talvez Frei Betto tenha razão quando diga que "Cada ponto de vista é a vista de um ponto", talvez os pontos do universo sejam incontáveis, e quem sabe um dia possam convergir para o ponto primordial, e que este ponto primordial seja Deus. Porém, um Deus que liberte e não aprisione, proteja e "ralhe" conosco suavemente, que nos alimente e possa semear em nós a paz e a fraternidade de forma incondicional. 
Existem vendavais ou chuva de versos, que ao expressarem nossos sentimentos, sobre diferentes aspectos da vida, nos deixam a indagação: "como construímos frases ou versos, estrofes, parágrafos, enfim, esteticamente ou metricamente tão maravilhosos?" Esse sopro melódico, rítmico e harmônico muitas vezes nos deixa em êxtase, ao constatarmos felizes o conforto da construção, e muitas vezes nos deixa angustiados quando não conseguimos dar um início, um primeiro passo no caminho da composição, ou fecharmos as comportas daquela correnteza de palavras que teimam em rolar no papel, a nascer no coração ou na mente, e florescer entre dedos ágeis. 
Escolhi o título da canção "Labaredas" para dar nome ao show que realizamos na Estação Gasômetro, deu trabalho reunir os músicos, ensaiar, muito estresse, mas a concretização do evento, restaurou o ânimo em produzir, escrever, tocar aprender, experimentar construir e realizar novos projetos. Postaremos aqui alguns vídeos com canções apresentadas no referido espetáculo, um momento de realização e confraternização, fantástico. O primeiro clipe que postamos foi "Temporal". Por certo outros virão para que vocês possam se deliciar com as nossas humildes arte-construções.

Um comentário:

  1. Fala Otácio, tá muito bom o seu blog. Quando puder visita o meu (arynemer.blogspot.com), faz tempo que eu não posto nada, mas pretendo fazer novas postagens. Um abraço.
    Ary Nemer

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