segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Des(re)territórios

Autores como Rogério Haesbart, tem explorado em seus estudos a questão da desterritorialização, ou reterritorialização. Entre os diversos exemplos de "reterritorialidades" estabelecidas, aparecem os territórios do poder paralelo dos narcotraficantes. Longe de estabelecermos aqui uma discussão sobre tal categoria (território), que normalmente apartará esta questão do senso comum, seria interessante à princípio nos perguntarmos, como as autoridades deixaram  o Rio de Janeiro, centro-político-administrativo do país até a metade do século passado, chegar a essa situação.  As cenas de guerra urbana que os canais de televisão, ávidos pela exploração dessa mercadoria tão sedutora que é a violência, insistem em mostrar, nos remete a esses filmes que banalizam a barbárie. É extremamente absurdo, que as pessoas, em pleno século XXI tenham que se sujeitar à um Estado paralelo, regulado e administrado por bandidos, em uma das chamadas metrópoles nacionais. E muitas dessas pessoas devem estar se perguntando, se tudo isso não passa de mais uma pirotecnia midiática. Esperamos e confiamos que não, que desta vez a exclusão das camadas empobrecidas da população, não lhes roube os direitos mais fundamentais, como a possibilidade de ir e vir. Vamos torcer e acreditar que nos locais reconquistados, o Estado vai se fazer presente, não apenas com as forças repressoras da criminalidade, mas principalmente, com educação, saúde, cultura, esporte, lazer, cidadania, na plena acepção desta terminologia tão veiculada, e ao mesmo tempo tão negada à parcelas cada vez mais significativas da população do Brasil e do mundo.
Outra face preocupante desta guerra é a possibilidade de transferência dos territórios dos narcotraficantes para outros estados da federação. Aliás que em todos os estados há manifestações constantes desse problema. O que dizer das ações violentas nos centros urbanos? Ou dos assaltos cada vez mais aterrorizadores em que, toda a população de pequenos e médios centros interioranos ficam a mercê de bandidos? Ou ainda os nossos rios amazônicos a mercê da pirataria moderna? Com tanta carência de agentes públicos, não invariavelmente vemos pessoas vociferando pela diminuição dos "gastos" públicos, pois parece que investimento tão somente é considerado, quando vai de encontro aos interesses do grande capital.
Tudo isto nos faz refletir sobre as carências de políticas públicas, e nos traz a preocupação e o alerta, para não deixar que, na periferia das nossas pequenas, médias e grandes cidades se chegue a tal situação de terror e omissão estatal, que levou a configuração dessa realidade de catástrofe que a periferia do Rio apresenta. Não apenas novos policiais precisam ser incorporados ao aparelho estatal, mas, principalmente, professores, técnicos educacionais, agentes públicos que formem e informem a população para o exercício da verdadeira cidadania. Vamos imaginar que é possível manter as famílias agregadas, os jovens e crianças livres da ociosidade, os pais e mães de famílias com ocupação e renda, as ruas com esgoto, saneamento, as casas em condições de conforto e habitabilidade, e as pessoas felizes, menos egoístas, cultivando os valores que realmente consolidam a paz e a fraternidade. Não apenas por causa do período natalino que nos bate à porta. Mas, porque o verdadeiro Cristo nasceu para "Que todos tenham vida em abundância".
Outro dia eu perguntava aos alunos por que os caminhões abastecem os açougues da periferia somente de madrugada? Diante da constatação por parte deles desse fato, disse que grande parte da carne é proveniente de abatedores clandestinos. Tudo com a cumplicidade do Estado. Parece que  sempre é assim, o Estado aceita essa condição, as pessoas consomem carne mais barata, e os negócios transgressores da lei persistem. Um dia tudo explode.

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