domingo, 12 de dezembro de 2010

Sinos II

O imaginário daquele que considero o meu lugar sempre foi pródigo em histórias fantásticas, quantas não foram as noites em que submergimos nesse mar de mistérios, nos reinos das profundezas, onde a fronteira entre o real e o fantástico se constitue em uma linha tênue, tal qual a linha que separa o horizonte do mar aberto. A praia do Sino, localizada na Ilha do Ipomonga, litoral curuçaense, recebeu esse nome devido à dinâmica audível e ao mesmo tempo invisível de uma cidade ou aldeia, talvez medieval, onde se ouvia o tropel dos cavalos, o cantar dos galos, o rumor de pessoas na rua, o vai e vem de carroças, e o toque dos sinos; tudo isso em uma área onde não existia nada mais que um par de palafitas, que mal se aguentavam em estacas de mangue, bravos pescadores e frágeis canoas, a praia e a floresta até então abundante na ilha. Todos acreditavan no reino encantado das profundezas do mar. Existia uma pedra com as três letras, a maré nunca alcançava aquela pedra, mesmo nos  "lances grandes", segundo a lenda o dia que o enigma das letras fosse decifrado, Belém ficaria submersa e o reino das profundezas emergiria com todo seu esplendor. Os pescadores ficavam boquiabertos ao constatarem a presença de um navio enorme que aparecia ao cair da noite e ao alvorecer se esvaía como fumaça. Certa vez o pescador que ficara de guardião da barraca, tocava clarineta, quando viu aquela moça belíssima ao punho de sua rede, terminou a canção e tentou alcançar o braço da moça, a mesma reagiu, fugindo apressada, mais tarde aportaram vários soldados para levá-lo a presença do pai da moça, situação não consumada por causa da chegada dos demais pescadores que interviram. Porém, a situação mais fantástica foi vivida por um pescador que resolveu arpoar dois espadartes que costumavam passar em frente a barraca, nos crepúsculos que antecediam as noites de lua cheia. Apesar de alertados pelos companheiros, para que não mexesse com o desconhecido, ele ignorou a orientação e alvejou o menor dos peixes, que resistindo bravamente, conseguiu quebrar o cabo que segurava o arpão e fugiu. Ao anoitecer quando os pescadores  se preparavam para o jantar, chegou aquele homem misterioso perguntando pelo arpoador do espadarte, após identificá-lo e garantir a seus companheiros que nada ia acontecer a ele, o homem foi caminhando com o aflito pescador pela praia até por os pés na agua morna da maré, pediu ao mesmo que fechasse os olhos, e quando o pescador do arpão abriu os olhos estava em um palácio de beleza indescritível, foi conduzido aos aposentos luxuosos de uma jovem, atirada em uma cama, a jovem belíssima, seus cabelos se esparramavam pela tapeçaria do quarto, a moça gemia em prantos, sua dor era causada pelo arpão, que a mesma tinha preso a altura da costela. O pescador manteve a calma solicitou um azeite qualquer com propriedades medicinais ou miraculosas, retirou o arpão e ouviu um sermão do pai da moça, que o aconselhou a ouvir seus colegas mais experientes e não incomodar mais o desconhecido ou misterioso. Não sei se o pai da moça era o lendário Rei Sebastião, se a cidade ou reino encantado era a Atlântida. Quem sabe?! Atualmente a Ilha do ipomonga após o desmatamento sofrido, talvez ainda reserve parte da magia do seu encanto. As dunas revestidas de plantas, as pedras à beira do mar, talvez continuem a testemunhar e esconder os sons que o imaginário andirá plantou em tantos corações e mentes abertos a viagens transcedentais. Os Andirás foram indigenas aldeados na região de Curuçá pelos missionários que expandiram a dominação política-cultural européia pelo nordeste paraense. Mas, parece que o caldeirão cultural popular continua com o fogo aceso e resiste. Ah! um dia minha irmã chamava a minha atenção, para o resultado de um estudo feito por geólogos, que afirmavam que Belém flutua em um mar de lama. E ficamos pensando... Será que nossa querida Belém pode um dia  ficar submersa?! Tsunamis,  Aquecimento Global, nossa altitude quase zero. Vamos cuidar da nossa casa maior, da Mãe-Terra, e vida longa para todos nós.

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