Novamente vivenciamos o desabamento de prédios, que vez por outra ocorre e provoca vítimas humanas em nosso país. Quando percebemos que tal ocorrência se deu na principal metrópole brasileira, em termos tecnológicos, financeiros e culturais, a preocupação aumenta. Principalmente porque a ideia cosmopolita que construímos a respeito dos centros urbanos que consideramos "cidades globais" os coloca acima dos problemas cotidianos dos centros mais "periféricos". A indignação com a tragédia ocorrida em Santa Maria (RS), com o incêndio da Boate Kiss, parece ainda bastante pertinente e nos convida a encarar nossa triste realidade de país do terceiro mundo. Como é realizada a fiscalização das obras e serviços oferecidos?! Porque as obras irregulares (como tem sido afirmado sobre este caso de São Paulo) continuam a ser executadas mesmo com pareceres técnicos desfavoráveis?! Onde estão os responsáveis por tal execução? Quando vamos constatar mudanças na ordem desses fatos?! Será que as ilegalidades e as mortes vão continuar acontecendo, acontecendo?!... a impunidade prevalecendo, prevalecendo?!... Mães, pais, filhos, famílias inteiras, sofrendo a perda de seus entes queridos e a mídia vai exaurindo o assunto enquanto ele continuar dando Ibope, e depois, aquela letargia contagiante e cúmplice das contradições vividas. Quais as leis que foram aprovadas para evitar tragédias, como as de Santa Maria?! Já estão em vigor?! Como estão as obras para evitar os deslizamentos na região serrana do Rio de Janeiro?! E os desabrigados?! Já estão com suas casas em áreas urbanizadas, solidamente construídas, com esgoto, saneamento e demais equipamentos urbanos que geram comodidade e cidadania, como unidades escolares e hospitalares, centros de lazer e entretenimento, etc.?! E o transporte urbano?! Quando as prefeituras vão deslocar seus fiscais para os finais, ou melhor, para os inícios de linha, e evitar que os ônibus saiam de manhã ou início de noite superlotados, comprometendo o conforto e a segurança de tantas pessoas?! Nunca é demais dizer, às vezes me permito a redundância, somos ainda um projeto de nação, cidadania a ser consolidada. Precisamos ir muito mais além. Pegar as bandeiras, as faixas, o apito, as máscaras, ensaiar as palavras de ordem, caminhar, talvez não seja o bastante. Reunir é possível, politizar é imprescindível, discutir de maneira cidadã e democrática, na comunidade, no condomínio, nas associações de moradores e classes, nas escolas e universidades, a gama de problemas que nos aflige, torna-se um imperativo. Precisamos exercer a dialética e das contradições, dinamizar a transformação. A construção do amanhã é agora. Precisamos ler, e entender a sociedade e suas engrenagens, os interesses predominantes. Precisamos nos despir da mesquinhez, que nos impede de renunciar aos interesses individuais em prol do interesse coletivo. Precisamos praticar solidariedade. E construir o novo, que se veste de brisa, que sopra mansa e constantemente, e mantem acesa dentro de nós a chama das sutis revoluções. Afinal, sempre haverá uma luz no fim do túnel.
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